09/05/2018

Visitando Toronto - Parques

Uma das coisas que mais gosto de Toronto é a quantiade de espaços públicos ao ar-livre. A quantidade de parques, parquetes, trilhas etc. é imensa e faz com que a cidade seja super agradável.

E, em uma cidade que tem 4 estações, os parques mudam com as estações.

Aqui, alguns dos parque que eu frequento e recomendo.


High Park






Tido como o "Central park" de Toronto, é o maior parque público da cidade. Ele Fica no sudoeste de Toronto e é acessível de TTC, carro e bicicleta.
Nele você encontra várias trilhas, um mini zoológico, um lago, parque para cachorros, campos de  baseball, futebol, quadra de tennis, playground para crianças, vários jardins, um restaurante... Além de caminhadas educativas oferecidas pela cidade. Enfim, eu considero Imperdível.

Atividades ao longo do ano:

Inverno




 - Andar / patinar ou esquiar no lago congelado
- Patinar ou praticar Hockey no Rink de Patinação

Primavera

O florescer das cerejeiras, ou The Cherry Blossoms.
O parque se cobre de flores brancas e atrai uma multidão

Verão



- Piscina pública ao ar livre
- Shakespeare no parque  (recomendo levar almofada pra sentar, comida e água)

Ou dê uma olhada no calendário do parque.


Humber River Rec Trail


Indo um pouco mais a leste você encontra o Rio Humber, que vem do norte da cidade e desce até o Lago Ontario. Ao logo desse rio há trilhas que são uma delícia de fazer de bicicleta. A trilha muda muito. Tem pedaço asfaltado, em terra, em madeira, pequenas cachoeiras e pontes.

Uma delícia também é descer o Rio de Canoa até o Lago e voltar. Ou assistir ao salmão pulando rio a cima para desova. Algumas pessoas também pescam no local. O parque é especialmente lindo no outono. Levei minha mãe e ela nunca se esquece de lá.

Para chegar, tem a estação de metrô Old Mills ou, se você estiver no Lago, pode começar a caminhas de lá mesmo. A trilha começa debaixo dessa ponte:



Trinity Bellwoods Park




Ou... Hipster park. :P

Esse parque é de tamanho médio e oferece o "básico": campos de baseball, rink de patinação, quadras de tênis, parque para cachorro. Mas o que há de mais emblemático no parque é o gramado arborizado, repleto de bancos e mesas de picnic que atrai um numero absurdo de pessoas em dias de sol. Homens barbudos, gente tatuada, animais esquisitos, crianças que sairam de um catálogo de moda, esportes diferenciados, rodas de tambor, pessoas tocando instrumentos variados, fazendo artesanato... Tem de tudo um pouco no Trinity.

Além dessa população fixa, no parque também acontecem diversos festivais de música, arte, cinema ao ar livre e às terças abriga uma feira orgânica.

No sul do parque está a Queen West, a rua mais hipster de Toronto e nela você encontra vários cafés e restaurantes bacanas. Tudo do ladinho do parque.

Embora beber na rua seja proibido por aqui, no Trinity vc vai ver muita gente bebendo. DICA: Não há banheiros públicos nesse parque, porém há um centro comunitário e você pode fazer seu xixi lá.

Se você quer conhecer Toronto de verdade, tem que passar um domingo no parque.





Ah! O símbolo do parque são os esquilos brancos que são raros, mas se vc der sorte vai ver um.


Don River Valley Park




Do lado oeste da cidade há outro Rio, o Don River, e ao longo da ravina há também um parque com diversas trilhas ótimas para se fazer a pé ou de bike. Eu tenho tentado conhecer o parque inteiro, mas ainda fico perdida por lá. Tipo: totalmente perdida nas trilhas. 
O parque é lindo e passar por baixo das pontes é um espetáculo. 
Nele também há exposiçøes de arte ao ar livre e um centro cultural super bacana chamado Evergreen Brick Works
Se você der sorte, pode avistar alguns animais que não se espera ver em cidade grandes, como veados, castores e raposas. 



Stanley Park



Esse parque é um pequeno parque dividido ao meio pela King Street West.
Eu o amo porque fica do lado de casa e tem o que é de mais essencial pra mim:
uma piscina (micra) e mesas de ping pong. 
Isso mesmo! A cidade tem espalhado pelos parques mesas de ping pong por diversos parques e eu amo jogar. O mais divertido é que o vento vira um fator ENORME no jogo e pode definir partidas.

Além disso o parque tem playground, parque pra cachorros, um campo de baseball, área molhada para as crianças, quadras de basquete e mesas de picnic. É um parque delicinha.




Riverdale Park West 




Esse parque é especial pra mim pois é aqui que a minha liga de softball joga, então durante o verão eu frequento o parque todos os domingos. 


Além de quadras de baseball, o parque tem quadra de cricket, pista de corrida, mesas de ping pong, uma piscina, equipamentos de ginástica, uma mini fazenda entre outras coisas. 
Além de tudo, esse parque tem uma das melhores vistas da cidade.
Recomendo tomar um café no Rooster Coffee House que fica na Broadview Avenue.


OUTROS PARQUES


Não tenho forças para escrever mais, mas outros parques altamente recomendados:

Christie Pits Park -  que tem uma piscina ótima para criancas, alem de muito espaço, quadras esportivas, festivais e... mesas de ping pong.



Cedarvale Park

Esse parque fica mais ao norte da cidade é bem bacana para explorar de bike.



Alexandra Park

Na esquina entre a College Street e a Dundas West, esse parque é bem central. Tem rinke de patinação, pista de skate, uma piscina bem grande, um centro comunitário e comida de rua de vários países do mundo, o Market 707.

 



28/04/2018

Visitando Toronto - Museus

Outro dia uma amiga me perguntou dicas turísticas da cidade. Ela tinha poucos dias livres e queria otimizar os passeios.

Infelizmente pra mim é muito difícil dar esse tipo de dica. A questão é que a cidade não é uma cidade super turística como Nova Iorque, onde você sabe onde ir e o que ver. Os pontos turísticos de Toronto são poucos. E eu sinceramente não acho que o mais interessante da cidade seja ir no óbvio.

Pra mim essa cidade é uma cidade para ser explorada. A pé, de bicicleta, de TTC (transporte público). Carro é totalmente dispensável, ao meu ver. Na verdade, carro acrescenta um obstáculo pois estacionar no centro da cidade pode ser um exercício de paciência.

Então, o que fazer em Toronto?

Vou dar sugestões de coisas que Eu, Barbs, acho legais de fazer.
Nesse Post, vou falar de museus (etc.) que eu gosto.

THE AGO




A AGO (Art Gallery of Ontario) tem ótimas exposições de arte. Tanto exposições fixas como mostras especiais. Como boa parte dos grandes museus de arte, tem uma coleção grande de obra clássicas. O que é diferente nesse museu é a grande quantidade de Obras canadenses e indígenas. O museu é enorme e é fácil se perder lá dentro. Aliás a arquitetura é bacanérrima. Recomendo mais de uma visita.

Dica: às quartas à noite (de 6pm às 9pm) a entrada é franca.



Arredores: O museu fica na esquina da Dundas com a McCaul. Olhando pro sul, você vai ver a CN tower e o prédio da OCAD (Ontario College of Art and Design). é Um prédio bem bacana. Andando para o sul, no número 14 da McCaul tem uma loja de aluguel de fantasias bacanérrima de visitar. Tem um pouco de tudo lá.



THE ROM




O ROM (Royal Ontario Museum) é um museu multidisciplinar. O museu abriga coleções de Dinossauros, Múmias, Arte Indígena, Vestuários de Época, Estátuas Romanas, Esculturas chinesas e muito mais. Também tem exposições especiais, como de arte negra canadense ou aranhas ou moda... Enfim, é um desses museus com um pouco de tudo e tem muita coisa bacana.

Dicas: Às terças o ingresso é gratuito para pessoas cursando college ou universidade no Canadá. Às sextas à noite entre 17:30 e 20:30 a entrada tem descontos para todos.

Às sextas à noite rola uma festa dentro do museu. A partir das 19h você pode comprar entradas para a festa que acontece no meio da galeria. Para entrar tem que ter 19+ anos, pois há consumo de bebidas alcoólicas.



Arredores:
O ROM fica muito próximo do campus da Universidade de Toronto (UofT), que é um campus super bacana de visitar. Se você tiver uma loucura por sapatos, caminhe até o BATA SHOE MUSEUM, que tem uma exposição permanente de sapatos ao longo da História e sapatos de pessoas famosas. Eu acho um porre mas...



CASA LOMA




A Casa Loma é um castelo que foi construído no começo do século XX, por um industrial canadense que sonhava em receber a Família Real em sua casa. O castelo é enorme e cheio de passagens secretas. Há uma sala de cinema na entrada que conta a historia do homem por trás do museu e eu recomendo ver esse filme antes de mais nada. Infelizmente o filme é todo em inglês. Depois, pegue um audio tour e vá andando pelas muitas câmaras do museu. Dentro há uma lanchonete com bons lanches (preços caros). Explore o túnel subterrâneo que leva a outros prédios e o Jardim. No verão há concertos no jardim e no outono a Casa se transforma em uma casa mal assombrada.

Dicas: Várias películas foram filmadas aqui. De X man a Chicago  série Hanibal da Netflix.

Se você gosta de scape rooms (jogos nos quais grupos tem 1 hora para resolver um mistério), aqui é oferecido alguns jogos com atores e o escambau. Achei esse trailer online:





AGA KHAN MUSEUM




Outro museu lindíssimo que, por ser um pouco fora de mão, só fui conhecer esse ano. O Aga Khan é um museu dedicado à história, cultura, arte e perspectiva dos povos islâmicos. O museu é lindo de tirar o fôlego, tanto em termos de arquitetura quanto a coleção no seu interior. Há apresentações musicais, debates, filmes, biblioteca... enfim, uma gama de coisas para se fazer.

Embora seja fora de mão é tranquilo chegar de TTC. Tem um ônibus que deixa na porta.

Dicas: Há uma lanchonete dentro com comidas bem gostosas (e caras).

Às quartas feiras a entrada é gratuita entre 4pm e 8pm.


FORT YORK NATIONAL HISTORIC SITE





Esse forte foi usado na Guerra contra a invasão americana no começo do séc. XIX. Várias estruturas podem ser visitadas por dentro voluntários vestidos de soldados, guardas, cozinheiras etc. oferecem realismo à visita. Nos meses de verão há disparos de canhão e exercícios militares.

Dica: Muitos concertos e festivais são realizados aqui, então é importante planejar a visita com alguma antecedência.



Arredores: O lago Ontário fica muito próximo ao forte, então vale uma caminhada até lá. Próximos também estão o Exhibition Place o bairro Liberty Village, com bons bares e restaurantes.

Exhibition Place
Liberty Village

06/04/2018

A solidao do imigrante

Quando chegamos no Canada a primeira sensacao eh de deslumbre.

Cidades limpas, organizadas, predios novos, bairros cheios de casinhas. A cultura culinaria eh diferente, o transporte publico que funciona, as pessoas que ficam do lado direito da escada rolante, as bibliocas publicas... enfim, nao falta motivos para o deslumbre.

Mas em pouco tempo comecamos a sentir saudades. Nao soh das coisas do Brasil, ou das pessoas que deixamos pra tras, mas de compania. De ter com quem tomar uma cerveja no fim de tarde, de encontrar os amigos na praia, da facilidade de conhecer gente que temos no Brasil.

Nao, nao eh facil conhecer gente no Canada. O pessoal aqui eh mais fechado, planeja coisas com uma antecedencia monstra, tem muita dificuldade em qualquer movimento espontaneo, nao fala mais que o necessario com estranhos, o pessoal da firma nao senta pra almocar junto. Enfim...

Alem disso, estamos chegando num pais novo, mas os canadenses ja estao aqui desde sempre. Tem amigos de infancia, da escola, da faculdade, do trabalho... eles nao precisam de novos amigos e nao dao muito espaco pra gente.

O resultado eh a solidao. Mesmo que voce tenha imigrado com a familia, a solidao de nao ter outras pessoas ao redor eh imensa. E muita gente leva muito tempo para fazer amigos por aqui, porque, meus caros, eh trabahoso. Mas nao eh impossivel.

Eu queria deixar aqui algumas sugestoes de como conhecer gente e fazer amigos nessa terra fria.

1. O site MeetUp oferece a possibilidade de estranhos se encontrarem em torno de um objetivo comum. Exemplos sao: meetups para coversar em ingles com outros imigrantes, mulheres que fazem computacao e querem conhecer outras, pessoas que gostam de fazer trilhas e querem compania, pessoas que querem jogar jogos de tabuleiro, entusiastas de culinaria que exploram restaurantes locais, pessoas solteiras que vao juntas a boates... enfim, tem de tudo.

2. Voluntariar. No Canada voluntariar eh muito comum e existem diversas maneiras de contribuir para a comunidade. Voce pode voluntariar em um Centro Comunitario, nos Jardins e parques da cidade, em eventos como a Gay Pride ou Festivais de Cinema, como a TIFF aqui em Toronto. Enfim, ha varias oportunidades e nesse movimento voce vai conhecer outras pessoas com interesses em comum.

3. Fazer um esporte. Em muitas cidades ha clubes esportivos nos quais voce pode se increver como individuo ou time e praticar esportes como futebol, futebol Americano, softball, dodgeball, basquete, curling, hockey, volei, entre outros. Algumas ligas sao apenas para mulheres, ou misturadas entre homens e mulheres, ou so homens. Eu jogo numa liga de softball queer em que temos mulheres, mulheres trans e homens tras, mas nao homens cis. Entao eh bem particular pra conhecer gente. Aqui um link interessante: Sport Social & Club Toronto.

4. Procure outros brasileiros. Mas cuidado, se vc for uma pessoa mais a esquerda, saiba que muitos brasileiros por aqui sao direititas. Minha experiencia especificamente com grupos de facebook nao eh boa. Do outro lado aqui em Toronto existem alguns grupos de samba, maracatu e capoeira nos quais voce vai conhecer brasileiros e gringos que amam a cultura brasileira.


5. Estudar. Voltar a escola. Isso eu estou pra fazer em breve.


6. Chame os novos amigos para uma feijoada em sua casa, ou um chrrasco brasileiro. Eles ficam loucos por isso e voce pode comecar uma roda de amigos assim.


7. Va celebrar a Acao de Gracas com estranhos.


8. Namore umx canadense
! Eles tem amigos e podem te apresentar a eles. Depois, roube os amigos deles! :P Mas, sem brincadeira, ir a dates eh uma maneira de conhecer gente. Inclusive ha gente casada que usa sites de encontros como o POF e o OKCupid para fazer novos amigos. 


Uma vez que voce faca amigos, ou conheca alguem que voce gostaria de se aproximar, considere isso sua missao. 


Amizade aqui nao eh facil, o pessoal nao ta acostumado com convites em cima da hora ou com desmarcar em cima da hora um convite aceito. Marque de ver a pessoa, ligue, mande emails. Nao falte a encontros. Chame para uma cerveja em 2 semanas. Nao espere que eles vao atras de voce, porque eles estao respeitando o seu espaco, e porque eles tem outros amigos. Mas insista. Nao demais, nao o tempo todos, mas dar um oi a cada duas semanas ou a cada mes eh ok pros canadenses. Ao menos na minha experiencia.


Quando eu conheco alguem que eu quero pra mim, eu basicamente me dedico a tarefa de traze-los para a minha vida. Passo um, dois anos, atras e, finalmente, em certo momento, consider oque fiz um amigo. Ou que "colecionei" mais um. E pouco a pouco, com paciencia, estou ampliando minha colecao de amigos canadenses. 


Axe.


24/12/2016

2016... que ano!




Hoje é dia 24 de Dezembro e eu estou sozinha em casa bebendo água e me arrumando para um festa de um amigo. Resolvi escrever esse post porque 2016 foi um ano dificil e eu não consegui me obrigar a escrever no Blog. Resolvi que farei essa postagem e depois, em 2017, voltarei a escrever.

2016... politicamente ano fodido da porra. O Brasil sendo comido por uma trupe de gente gananciosa e eu daqui de longe vendo tudo acontecer e sem poder fazer nada. Vendo as pessoas se tornarem cada vez mais intolerantes, sendo obrigada a pedir pelo amor de deus (no qual eu nao acredito) pra familiares não falarem de política comigo que eu não aguento.

Trump sendo eleito presidente dos EUA.

Terrorismo por toda parte.

2016... que ano!

Pessoalmente também um ano muito difícil. Eu e Dona Mari nos separamos depois de dez anos juntas. Dona Mari, minha melhor amiga e meu grande amor voltou para o Brasil e eu fiquei. Essa separação é tão dificil que não fui capaz jamais de escrever aqui sobre isso. Também sei que Dona Mari não gosta de exposição.

Graças aos santos esse ano não foi de todo mau pra mim.

Primeiro que minha separação, por mais dolorosa que tenha sido (e ainda esteja sendo) me mostrou que o amor que as pessoas sentem pelas outras supera tudo, até o fim de um romance. Eu e Dona Mari seguimos nos amando, ainda que ao longe e ainda que de outra forma. Que bom é terminar um relacionamento mantendo o amor, o respeito, o carinho e o bem-querer... que bom. Me sinto muito amada e isso me consola quando a saudade aperta.

Segundo que, inesperadamente, encontrei um novo amor em outra pessoa carinhosa, companheira, divertida e de bom caráter. E, no meio dessa reviravolta, me vejo sendo uma das pessoas mais sortudas que conheço.

Esse ano também descobri que gosto de mim. Tenho muito a crescer, mas me sinto bem comigo mesma. E me sinto sendo honesta comigo e com os outras a minha volta.

Por último, profissionalmente o ano termina bem. Entrei em um contrato no fim do verão que deveria durar 3 semanas, virou 3 meses, virou até o natal... e agora virou indefinido. E ainda com direito a fazer uma pausa para ir ao México no fim de ano e pro Rio em fevereiro.

Infelizmente férias pagas é um sonho que ainda não realizei. Quem sabe um dia?

Engraçado como, mesmo sendo atéia, é dificil passar o Natal sozinha. D. Mari no Brasil, Namorada com a familia em Montreal (eu nao quis ir), os amigos que habitualmente passam comigo têm planos esse ano. Entao estou em casa sozinha o dia inteiro sentindo saudades de todos e, principalmente, da minha mãe. Mas tô chegando. Dia 4 de fevereiro estarei no Rio e isso me consola.

Bom, boas festas, pra quem celebra qualquer coisa.
Volto em 2017, esperando que seja um ano melhor pra todos, apesar dos pesares.

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26/02/2016

Canadenses!

Venho, por meio dessa, dar as boas novas - VIRAMOS CANADENSES!

Na verdade, viramos canadenses há quase 2 meses, mas a vida corrida não tinha me dado a oportunidade de compartilhar no blog.

É engraçado como nada muda, mas alguma coisa muda quando você se torna cidadã de outro país. Continuo vivendo minha "brasilidade", mas tenho que admitir que ando muito orgulhosa da minha nova identidade.

Logo depois de jurar lealdade à rainha

Alguma chave mudou? Há alguma coisa diferente?

Meus colegas de trabalho diriam que agora não posso mais fazer comentários do tipo: "vocês canadenses são muito estranhos", porque eu sou uma deles. Mas eu digo: "vocês canadenses nascidos na America do Norte são muito estranhos". Meu colega Chileno-canadense concorda.

Sendo uma pessoa de esquerda, que sofre ao ler sobre a política brasileira - meu facebook é totalmente politicamente orientado - eu devo ser masoquista - fico feliz em estar morando em um país que deu uma virada à esquerda.
How are you doing?
Ano passado, pouco antes de eu virar cidadã, elegemos um governo de maioria Liberal, cujo líder, Justin Trudeau, além de gato (não tem como negar) está prometendo e realizando algumas boas mudanças na política canadense.

Uma das que me afeta mais diretamente é a lei criada pelo governo conservador de Stephen Harper que dá ao governo canadense o direito de revocar a cidadania de pessoas que, como eu, tem uma segunda pátria. A lei, conhecida como Bill C-24, foi criada visando "defender o país de terroristas" internos, como é o caso dos 18 de Toronto. A lei funciona assim: Se você for condenado por espionagem, traição à pátria ou terrorismo e tiver outra cidadania (ou a possibilidade de obter outra cidadania), o ministro de imigração pode revogar, unilateralmente, a sua cidadania canadense.

Como isso me afeta, se eu não sou nem pretendo ser terrorista ou espiã?
Bom, primeiro ela cria uma divisão interna no país entre cidadãos de primeira e segunda classe. Pessoas que serão sempre canadenses e outras que podem, a qualquer momento, deixar de ser. Essa sou eu e é também o meu amigo cuja avó é italiana, mas que nunca pisou na Itália. Isso afeta tanto imigrantes quanto seus descendentes quanto pessoas que se casam com imigrantes. Somos todos segunda classe. Segundo, o que define espionagem, o que define terrorismo? O que define traição ao país? Em certos momentos achamos que há uma linha muito clara entre "gente de bem" e a "galera do mau", mas definições mudam o tempo todo. No Brasil, se me lembro bem, queriam passar uma lei, durante a Copa do Mundo, em que qualquer pessoa que protestasse na rua poderia ser detido como terrorista.

Dois "sem mãe"


Ah! mas isso é no Brasil, você diz. No Canadá eles são mais civilizados - tanto as pessoas que protestam quanto as que prendem e julgam.
Eu discordo dessa visão vira-lata brasileira em gênero número e grau. Mas não só! A lei inclui convicções dessa natureza em outros países. Um caso famoso é o de Mohamed Fahmy, jornalista canadense que foi condenado por espionagem no Egito - aparentemente sem provas maiores do que ser jornalista. Durante um bom tempo houve preocupação de que o governo Harper retiraria sua cidadania, pois o mesmo poderia pedir cidadania egípcia. Ou seja, dava para abandonar o cara lá, simplesmente.



Enfim, essa lei está sendo revertida pelo governo liberal, para felicidade de grande parte da população.

Outra lei que estou ansiosa para ver acontecer é a que vai legalizar o uso de maconha recreativa no país. Maconha medicinal já é permitida, mas uma prescrição não é a coisa mais fácil de conseguir. Eu uso maconha há muitos anos para tratar de insônia e cólicas menstruais. Sim, eu gosto também do barato, mas meu uso é bem específico e acontece, normalmente, sozinha, em casa, antes de dormir ou quando estou gemendo de dor e impossibilitada de ir trabalhar. Eu queria muito poder pegar minha receita e ir numa das "farmácias verdes", conversar com o/a atendente e comprar uma maconha específica para mim. Mas não posso - meus médicos são sempre contra. E o que acaba acontecendo é que eu compro de traficante. Eu e todos os maconheiros não cadastrados temos que comprar erva de traficante - o que não é bom para ninguém. Ou melhor - é bom só para o fornecedor. Com a legalização da maconha, qualquer pessoa maior de idade poderá comprar legalmente maconha e derivados em casas especializadas, gerando negócios legais, criando empregos, pagando impostos e sem quebrar a lei. Essa mudança é apoiada pela grande maioria da população canadense. Aliás, a revista Toronto Life só fala disso.



Outras medidas bacanas do governo: Abertura para 25 mil refugiados sírios até o fim do próximo mês, um gabinete ministerial com bancos divididos metade entre homens e metade entre mulheres, uma ministra da justiça indígena, a regulamentação (está para acontecer) da lei de "morte assistida" para pessoas com doenças terminais, e várias outras pautas pendendo pra esquerda.

E esse ano ele prometeu desfilar na parada do orgulho gay de Toronto - vai ser o primeiro primeiro ministro a fazê-lo!

O Canadá não é o lugar mais justo do mundo, mas em tempos de Trump e Bolsonaro, estou muito, mas muito feliz em ter essa outra identidade.

Canadian Barbs!

13/12/2015

Trânsito e locomoção - se deslocando pela cidade

Eu acho que não importa onde se viva, o deslocamento entre dois pontos de uma cidade pode ser uma grande fonte de stress.

No Rio de Janeiro lembro que sempre calculava meu deslocamento mínimo de ônibus em 30 minutos de um ponto a outro. Para a praia, uma hora. Para o centro, 40 minutos. Faculdade... dependia. Isso porque eu morava na Zona Sul - parte privilegiada da cidade em termos de... basicamente tudo. Esses tempos, 30, 40 minutos, 1 hora pra chegar no meu destino, me pareciam normais. Mas com o tempo eu fui cansando e descobri que se eu fosse de bicicleta de um canto a outro eu poderia fazer tudo mais
Quando mudei para Toronto obviamente comprei uma bicicleta já de saída, mas morando longe, o primeiro ano por aqui eu usei o TTC como meio prioritário de transporte.

A gente morava numa área mais suburbana, chamada Swan Sea. De casa para o mercado eu podia pegar um ônibus que passava a cada 20 minutos ou andar 25 minutos. O comércio mais perto era num posto de gasolina em que eu comprava uma ou outra coisa numa emergência. Meu primeiro trabalho, num café dentro da Universidade de Toronto, ficava a uma hora de street car de casa. Eu não reclamava a principio, pois uma hora de deslocamento era normal pra mim, mas aos poucos eu comecei a pedalar pra cima e para baixo e não parei mais.

Hoje ando de bicicleta quase todos os dias entre a primavera e o começo do inverno. As coisas que me impedem de pedalar são: chuva, neve, gelo, ventania, temperaturas abaixo de -15, a possibilidade de beber e preguiça - que as vezes bate, não tem jeito. Mas PREGUIÇA MESMO eu tenho de andar de transporte público e hoje tenho mil críticas ao sistema - assim como todo torontoniano.


Minhas críticas: A linha de metrô é muito pequena, tem poucos street cars e ônibus em determinadas rotas. Algumas vezes, como no Rio, passam 2 street cars seguidos um do outro e depois te deixam esperando por 20 / 30 minutos no ponto (o que é especialmente escroto no inverno), eles também encurtam as rotas quando você já está dentro do transporte, obrigando vc a sair no meio do trajeto e ficar na rua esperando o próximo TTC vir. Muita gente vive em seu próprio universo e não ajuda a coletividade - exemplo diário: o street car e os ônibus não param para pegar mais passageiros se estiverem lotados. O motorista não tem como saber se tem ou não espaço atrás, ele só vê a primeira parte do vagão entao ele anuncia pelo rádio: please move back. E as vezes, tem até bancos vazios, espaço pra caramba, e mesmo assim ninguém se move. Todo mundo quer ficar perto da saída. Então você que está esperando para entrar (talvez num frio do cão) não consegue porque o motorista entende que tá cheio. Muitas vezes eu, que estou dentro ou tentando entrar, dou uns gritos até que as pessoas se movam. por último: não tem como negar que os bondes velhos quebram. e quando quebram a rua toda fica travada.

Com relação a carro - não tenho nem carteira de motorista ainda. Simplesmente porque não vejo necessidade. Também porque acho esquisito dirigir uma máquina que pesa toneladas e usa petróleo apenas para transportar meus poucos quilinhos. E eu moro no centro - novamente um local privilegiado, e não preciso de carro quase nunca.

É necessário ter carro em Toronto? Dependendo de onde você mora e onde trabalha/ estuda não. Não mesmo. Com todos os seus problemas o TTC é suficiente e é bem melhor do que o transporte no Rio. Pelo menos aqui vc para um único ticket para se ir de um ponto a outro (com o transfer você pode trocar de transporte sem problema) e a maioria das vezes o tempo de percurso é ok. Você também pode comprar um cartão semanal ou mensal com ilimitadas viagens, o que barateia muito a vida.

Mas, e se eu quero dirigir de vez em quando? Para isso existem diversos serviços de aluguel de carro, como o ZipCar, o Car2Go, o AutoShare e outros. Não precisa de ir a locadoras e há estacionamentos com carros prontos para serem dirigidos por toda a cidade. Então, pra que ter carro?

Algumas ciclovias apareceram da noite para o dia
Para piorar o trânsito na hora do rush pode ser brutal. Cada vez mais gente com carros em ruas estreitas, dividindo a rua com o TTC, carros estacionados, taxis, Ubers, bicicletas... Dirigir na hora do rush aqui pode ser infernal.  Nessa hora as pessoas se estressam loucamente e começam a ignorar regras de civilidade e de trânsito.

E se deslocar de bicicleta: é perfeito?

Não. Longe disso. Mas é tipo MUITO MELHOR do que eu estava acostumada no Brasil.

Aqui rola rush de bicicleta
Primeiro porque o número de ciclovias tem crescido bastante, principalmente agora que o prefeito cracudo saiu. Segundo porque eu posso usar a bicicleta em conjunto com o TTC, então se eu ficar cansada é só levar minha bike comigo. Terceiro porque há estacionamento para bicicleta quase em qualquer lugar.

Mas não é um mundo perfeito. Mesmo com ciclovias, motoristas de carros particulares e taxis insistem em estacionar ou mesmo trafegar nas vias. Muitos ultrapassam você tirando fino. Outros te agridem verbalmente apenas por você existir.

Taxistas usam a nova ciclovia como estacionamento

Motoristas se esquecendo das regras de transito



Há também o perigo de alguém abrir a porta de um carro estacionado em cima de você. E por último: ciclistas babacas, que tem aqui como tem em qualquer lugar. Por algum tempo eu reagia a tentativas de homicídio (é assim que eu encaro quando um carro passa raspando ou dirige diretamente em direção a mim) gritando e chingando e depois de passado o problema eu continuava puta. As vezes o dia inteiro. Então adotei uma postura mais zen que ainda permite uma certa vingançinha.

Sempre olhar pelo retrovisor
antes de abrir a porta
A grande maioria das pessoas que faz merda não sabe que está fazendo merda. Então, depois da tentativa de homicídio eu tento alcançar o carro num sinal fechado (o que normalmente não é nada difícil, já que eles estão parados no trânsito e eu não). Então eu peço para abaixar a janela e explico o que eles fizeram de errado e as consequencias do comportamento. 99% dos motoristas se surpreendem, pedem desculpas e prometem prestar mais atenção. Os 1% que me mandam à merda eu respondo com um sorriso: "que você siga com esse espírito incrível" ou "que seu dia continue nesse clima" ou "deve ser terrivel viver como você vive". E com um sorrizo eu vou em uma direção que eles não possam ir. Pronto. Vingança!

Por último, conversei no trabalho e tenho chegado 10 minutos atrasada todos os dias - e saído 10 minutos depois. Esses dez minutos me fazem escapar da hora do rush.

Bom, chega.
Tchau.


Essa não sou eu. Tenho medo de gelo e neve.



09/12/2015

Trabalhando em Toronto com Pós-Produção

Chegamos em Toronto em 2011 e, depois de um começo difícil, estamos trabalhando cada vez com mais constância. Éramos as duas editoras de vídeo no Brasil e estamos na mesma área aqui, por isso colegas brasileiros sempre perguntam como é o mercado de trabalho por aqui.

Infelizmente, mesmo que não exerçamos uma profissão regulamentada, não é tão simples arrumar trabalho. Existem muitas regras escritas e não escritas para se trabalhar por aqui. Uma rápida descrição dos desafios para aqueles que estão a procura de respostas:

1. Para trabalhar você precisa de um visto de trabalho ou ser imigrante ou ser canadense. Nenhuma empresa grande contrata alguém ilegal. Existem trabalhos por baixo da mesa, claro, mas a grande maioria desses trabalhos paga pouco / explora / é temporário. Então não vale a pena vir sem ter certeza de que pode trabalhar.

2. Existe uma lei trabalhista aqui que diz que só se pode contratar um estrangeiro se não existir nenhum canadense (ou residente permanente) que possa exercer a função. Então se você tem apenas um visto de trabalho, vai ficar lá no fim da fila.

3. Boa parte das produções canadenses contam com estímulo governamental. São isenções fiscais dados às produtoras para empregar mão de obra local. Para ser considerado mão de obra local é necessário, novamente, ser residente permanente ou canadense, residir na cidade onde a produção e ter pagado o imposto de renda daquele ano já na própria cidade. Ou seja, não adianta se mudar hoje para Toronto, por exemplo, e achar que já é residente da cidade. Tem que ter feito sua última contribuição aqui também.

4. Mesmo com todas essas barreiras o trabalho não é regulamentado e a grande maioria das pessoas é freela fixo. Sim, tão ruim quanto no Brasil.

5. Você é novo e não conhece ninguém. Ninguém te conhece. Pra piorar, você tem nome latino, talvez mesmo impronunciável. Tipo Mariana. E seu currículo não tem nenhuma produção gringa… Ninguém ouviu falar das produtoras brasileiras ou dos nossos canais de televisão. GNT? Record? Conspiração? O que é isso? Seu rolo está em português… com legendas. Para os canadenses você é praticamente um alien. Um alien com sotaque.

6. Vai ser muito difícil, senão impossível, arrumar emprego no mesmo nível que você tinha no Brasil. Você vai ter que reconstruir sua carreira. Você é editora, mas vai trabalhar de Logger.

Então, depois de saber de tudo isso, você ainda quer trabalhar por aqui. Como fazer?

1. Imigre. Como? Visite a página http://www.cic.gc.ca/english/ para como fazer.


2. Quando chegar, faça de tudo para conhecer gente. Aqui Quem Indica é tão poderoso quanto no Brasil. A maior parte dos empregos que tive foram por indicação. Bons lugares para fazer network são:
   - LIFT (LIAISON OF INDEPENDENT FILMMAKERS OF TORONTO)
   - The Directors Guild of Canada
   - Festivais de cinema como a TIFF, Hot Docs, Brazilian Film Fest etc.
   - Women in Film & Television (WIFT)

3. Atualize seu currículo para os padrões daqui. Não é simples. Aprenda o jeito que eles escrevem. Quando aplicar para um emprego, made uma carta de apresentação personalizada e um CV personalizado também. Preste atenção no que estão pedindo e use as mesmas paravras para se descrever. Uma vez respondi a um anúncio de trabalho que dizia, entre outras coisas que queriam alguém que soubesse after effects. Como eu não sabia mas queria o trabalho, escrevi na minha carta de apresentação que eu não dominava o programa, mas que sabia photoshop. Eu tinha outras mil qualificações para trabalhar naquele projeto e consegui a vaga.

4. Alem do networking existem alguns sites que anunciam empregos na área. A maioria voluntários, mas pra quem não tem nada realizado em inglês, pode ser uma:

  -  Mandy’s Film and TV Production Directory
  - Post Production Pro
  - A própria LIFT
  - Claro, tem o Craigslist.ca, mas a GRANDE MAIORIA dos posts é roubada.

5. Tenha um LinkedIn atualizado, bonitinho, limpinho e cheirosinho. Além disso, participe de grupos de discussão.

6. Aqui pode mandar emails e ligar para pessoas com as quais você gostaria de trabalhar, mesmo que vocês não se conheçam. Faz parte da cultura. Pra mim é absurdo, mas funciona. Chame para um café, para um almoço, pergunte se pode conhecer a empresa.

7. Se você for chamado para uma entrevista, leia o site da empresa, descubra como as pessoas se vestem e se portam e tente parecer com elas. Sério, já vi várias pessoas serem desconsideradas para um trampo porque não pareciam pertencer. Aqui mesmo onde eu trabalho, é uma produtora que faz muito documentário de Heavy Metal. No dia da minha entrevista, vim de preto e eu tava parecida com todo mundo. Uma colega veio pra entrevista de cáqui, toda comportada e dava pra ver que já na entrada olharam pra ela com desconfiança.

8. Crescer na carreira é difícil. E como no Brasil você provavelmente vai ter que mudar de produtora para ter oportunidade de crescer. Demora bastante. Ainda estamos trabalhando majoritariamente como assistentes depois de 3 anos no mercado de trabalho. Mesmo quando você edita seu nome dificilmente entrará nos créditos, afinal, você não tem nome. Além disso tudo muitas vezes os editores são escolhidos pelos exibidores e eles não gostam de nomes novos.

9. Aprenda Avid e Premiere. Avid é usado na maioria das grandes produtoras e Premiere nas pequenas. Eu nunca aprendi premiere, mas tá na lista. After Effects é um “plus a mais”.


Bom, essas são minhas dicas.
Espero que ajude alguém.