12/10/2012

O aborto e a coluna "erótica" do jornal gratuito

Me parece chocante, mas no Brasil o aborto não é só um assunto tabu, é também crime.
O aborto no Brasil só é permitido à mulher em caso de estupro, de risco de vida para a mulher e (novidade) em caso de fetos anencéfalos.
Mesmo nesses três casos, a mulher que quer abortar precisa esperar muito tempo para ter o embrião retirado. Muitas vezes durante essa espera passam-se meses e perde-se a oportunidade ficando a mulher obrigada a continuar a gestão até o fim.
As outra mulheres que não tiveram "a sorte" de estarem nos três casos previstos são obrigadas a recorrer ao aborto ilegal, muitas vezes morrendo em decorrência disso. São milhares de mulheres mortas por não terem direito à escolha, por não terem o direito à gerir seus corpos.

O nome do movimento contra o aborto se chama pró-vida (vida do embrião, não da mulher) e do movimento pró-aborto é pró-escolha.
Antes de mais nada quero dizer que sou pró-escolha e acho um ABSURDO que essa discussão ainda exista no Brasil e que muita gente (incluindo aí parentes meus) comparem uma mulher que realiza um aborto a um criminoso como um ladrão ou um sequestrador ou assassino. Mas é assim no Brasil. Ainda.

Aqui no Canada a coisa é diferente. O aborto é legalizado e, se você for contra o aborto, não faça um.
(assim como se vc for contra o casement gay, não case com um gay. Mas se você quiser casar, pode ir lá no City Hall e fazer a festa mais linda que o dinheiro pode pagar)

Toda quinta feira é distribuído pela meu jornal favorito, a NOW, que é uma publicação gratuita que trata principalmente de cultura, mas também de política e outros assuntos. Na última página fica minha sessão favorita: Savage Love. Dan Savage, o editor da coluna, responde a cartas sobre questões (normalmente) sexuais dos leitores. As questões são as mais variadas e muitas vezes hilárias.

As pessoas perguntam sobre posições sexuais, taras, falam de situações vividas e contas as histórias mais esdruchulas que você pode imaginar.
Mas de uns tempos para cá, notei que cada vez mais a coluna está politizada.

Outro dia, por exemplo, uma leitora escreveu para dizer que ela considera uma perda de tempo sair com qualquer homem que não seja feminista. Ela explicava: todos os homens querem sexo. Eu também quero sexo. Só que quando o homem não é feminista e a gente transa ele automaticamente me chama de vagabunda e nunca mais aparece (pra depois ficar reclamando que não acha mulher para namorar). Quando o homem é feminista a gente transa. depois transa de novo e de novo e… se o negócio engata o namoro é uma delícia.
Hoje uma mulher expõe uma dúvida incomum: ela namora um cara há sete meses. Ele é fofo, atencioso e tudo o mais, mas outro dia, durante uma conversa, ela descobriu que ele é contra o aborto. Embora ele não diga em voz alta que o aborto deveria ser banido, ele disse que acho que o feto é um ser que têm direitos iguais aos dele. A pergunta dela: eles devem terminar? Ela pergunta isso porque depois dessa conversa já não o olha com os mesmos olhos.

Pra você ver: no Canadá um homem dizer para a namorada que é contra o aborto é um "deal breaker". Demonstra que ele não acredita que a mulher têm o direito de escolha sobre o que acontece dentro do próprio corpo. Ser pró-vida aqui é ser machista é diminuir o poder da mulher.

Dan Savage propõe que ela faça um teste: diga para o namorado que está grávida e sente com ele para planejar o resto da vida deles (juntos ou separados, tanto faz). Ele diz que provavelmente o rapaz muda rapidinho de ideia. Mas continua: para ele, mesmo sendo gay, se ele descobrisse que o cara que ele está namorando é contra o aborto, separaria imediatamente dele porque ele é um idiota. E continua: se você é contra o aborto, você deveria ser contra qualquer método anticoncepcional, pois ele também é abortivo. E se você é contra isso… bom, você é, na essência, contra sexo. E porque alguém namoraria um babaca assim?

Palmas para ele e para a sociedade canadense que acreditam na emancipação feminina.

Para ler a coluna dele na íntegra é só clicar aqui.