23/10/2011

Toronto-Vancouver-Toronto

Pensando que voltaríamos a morar em Vancouver, deixamos para trás duas caixas e uma mala lotadas de quinquilharias.
Desde roupas, livros e documentos a cabides e potes de plástico. Um pouco de tudo. Na verdade quando abrimos a mala e as caixas foi uma surpresa só.
Ficou tudo guardado no depósito do Travis durante mais de um ano.

Travis & nóis na bunda do nosso ex-prédio
Então… tínhamos uma passagem NY-Vancouver comprada, que seria a nossa volta para o Canadá. Acabamos trocando por uma passagem Toronto-Vancouver, para pegar nossas coisas de volta.
Tínhamos a ida, mas não tínhamos a volta. Dona Mari, como sempre, passou dias pesquisando o que sairia mais barato. E, quem diria, ela descobriu uma SUPER promoção na Via Rail (http://www.viarail.ca/en/main).
Na verdade parecia inacreditável. Há anos vínhamos sonhando em cruzar de Vancouver para Toronto de trem, mas a passagem tem preços estratosféricos, mesmo na classe econômica.
Dona Mari achou essa mesma passagem por ¼ do preço, na 1a classe, com comida incluída e com possibilidade de trazer todos os nossos cacarecos sem pagar peso extra. Claro, compramos.

Ida
Chegamos em Vancouver na quinta de noite, depois de uma saída apressada de Toronto, uma correria sem tamanho.
A viagem de 5 horas de avião dura uma eternidade. A sensação foi ainda mais acentuada pelo fato de que partimos no final da tarde. Viajando do leste para o oeste, perseguimos o pôr do sol por quase 3 horas. Eu não parava de pensar no Super Homem, em viajar no tempo, no H.G. Wells.

Na chegada, a sensação de  viagem ao tempo permaneceu. Novamente estávamos na cidade que nos recebeu no Canadá. Dessa vez, porém, para uma passagem rápida, de 4 dias, em que nos esforçamos para ver os todos amigos.
Assim que pousamos, ligamos o telefone e já havia um convite para jantar e nossa amiga nos esperava no aeroporto. Em 4 dias bebemos muito, comemos uma moqueca baiana muito bem feita por um australiano, revemos um pouco da cidade, andamos de bike pelo Stanley Park (morro de saudades) e conhecemos, finalmente o Capilano Suspension Bridge Park.

Dica sobre o Capilano Suspension Bridge (http://www.capbridge.com/): Não vale o preço. Eles cobram quase 33 dolares por um passeio que valeria no máximo 12. Fomos porque tínhamos deixado isso como um passeio rápido para quando voltássemos a Vancouver. É bonito… e rápido. Em 1 hora vc já viu tudo.

Pra quem não sabe essa é a ponte do Indiana Jones



Cliff Walk - nova atração e a mais legal
Bom, matadas as saudades (ou estimuladas as saudades) empacotamos nossas coisas e embarcamos no trem.

Volta: Cruzando o Canadá de trem

Pelo que Dona Mari leu na revistinha do trem, o Canada só se viu mesmo como uma única nação, e não provincias separadas por grandes distâncias, quando a linha do trem Canada Nacional foi criada. E dá pra ver porque, quando se faz esse trajeto.
Tudo é muuuuuuuuuuuuuito longe.
As cidades ao longo do caminho, com exceção de uma ou duas, são micro-cidades. Algumas com menos de 2 mil habitantes. E a paisagem embora linda, não parece muito convidativa.

O trem


É grande. Mais de 20 vagões.
E velho. Opera desde 1970 e algo.
É divido em duas principais classes: econômica e 1a classe.
A classe econômica, tadinha, viaja o tempo todo sentada. Se lotar, vc viaja ainda de frente para um desconhecido, que viaja de costas. E tem que pagar por comida, nao tem bem onde colocar a mala. Achei uma tragêdia.
A 1a classe é cheia de subdvisões. Tem as cabines com porta de uma ou duas pessoas. Ou casal. Tem umas cabines de uma pessoa que fecham somente uma cortina. E tem uns tais de uns berths. Foi nesse troço que viajamos.
Quando entramos no trem levamos um susto. Nossa “cabine”era na verdade dois sofás, um de frente pro outro, no meio do corredor do trem, ao lado de outros dois sofás onde um casal de russos (suecos, poloneses, albaneses, tchecos, algo assim) discutiam ardorosamente.

Achávamos que teria uma cortina divindo a nossa vida da vida do resto do trem, mas não tinha. Imaginamos, pelo tom do casal, que eles tinham a mesma expectativa que nós e não gostaram de se ver dividindo o corredor com duas mulheres brasileiras (ou mexicanas, argentinas, portuguesas, algo assim).
Sentamos no nosso sofazinho (onde colocar a mala????), tristes e desconsoladas. O casal ao lado na mesma mood… o rapaz levantou e saiu para um passeio, com a mulher atrás. Poucos minutos depois Lernart, o trem-moço (tipo aero-moço de trem, né?) do nosso vagão chega e pergunta se estamos felizes.

- NÃO, dissemos sonoramente.
E nos pusemos a explicar que no site tudo parecia diferente. O moço (muito bom em customer service, por sinal) ouviu nossas queixas, repetiu o que entendeu, se solidarizou conosco, concordou que as fotos do site enganam, se propôs a procurar uma solução que nos satisfizesse no dia seguinte (ja era tarde da noite) e nos pediu a gentileza de ficarmos lá apenas por aquela noite para ver como era. Depois nos mostrou como nossas camas seriam montadas e como haveria uma cortina ao redor da cama, afinal.


É ou não um verdadeiro bunker?
Uma vez montada a cama e depois da primeira noite, concluimos que não era tão mal assim e ficamos no nosso bunkerzinho. Teria sido uma experiência tranquila se na segunda noite o casal não resolvesse que era hora de fazer um amozinho gostoso, do qual eu, meu ouvido e minha insonia não pudemos deixar de participar.
Tudo bem. Eles desembarcaram no meio do caminho de qq forma.
De resto o vagão era confortável. Banheiro grande, outro banheiro grande só pro chuveiro. Logo no corredor, uma “bica”dágua com copinhos de papel. Fofo.
Ah! Se alguém estiver pensando em fazer a viagem: quase não há tomadas. Só no banheiro e no vagão de jogos. Traga sua extensão.

Restaurante
Ainda sobre o trem, logo na nossa frente ficava o carro panorâmico, confortável, todo de vidro. Havia ainda uns salões de jogos (horrorosos), bares (horrorosos), vagões restaurantes (oks) e os domos (4, acho), que ficavam elevados onde tb havia um vidro panorâmico e onde ficamos a maior parte do tempo.

Carro panôramico - infelizmente ele só fica um dia conosco
O Domo

A Paisagem
Impressionante.




No primeiro dia vimos as montanhas rochosas. Infelizmente não estavam muito nevadas e o clima estava fechado, então não foi tão deslumbrante quanto imaginávamos, mesmo assim, muito bonitas. A parada do dia foi em Jasper, que fica bem no meio das montanhas. A cidade não tem nada. Achava que fosse tipo Whistler, que é uma fofura, mas não. É bem sacal. Até porque, as montanhas ficam um pouco longe.





Se você tiver tempo, dá para dividir a viagem de trem em duas, saltar em Jasper, alugar um carro e fazer um passeio que se chama “A estrada mais linda do mundo” que vai até Banff. Bom, depois vc me conta como foi.
Logo depois de Jasper vem o jantar. Fique do lado direito. A vista é imperdível.

No Segundo dia, vc atravessa a parte do Canadá onde não há “nada”, uma imensidão vazia que todo mundo disse que seria um saco, mas que eu e Dona Mari curtimos horrores.



 

Talvez tenha sido o sol. Ou o outono. Sei que achamos as cores lindas. A parada é à noite, em Winnipeg, a capital de Manitoba. Fazia um frio do cão, então achamos um bar e bebemos uma cerveja MUITO barata pelos padrões canadenses (3.50 o copo) (normalemente é 6.00).


No terceiro dia você cruza Ontario, com lindos lagos e florestas. E para em uma cidade horrorosa que não sei o nome. Fizemos também uma parada para uma pessoa com parada cardíaca descer.




Vivendo no Trem
Então…
Você gostaria de fazer um cruzeiro?
Você tem 70+ anos?
Você gosta de comer o dia inteiro e fazer amigos?
Então essa viagem foi feita pra você.

Atividade favorita: ler. Interação humana: 0

2a atividade favorita: escrever no blog. Interação humana: 0
Se você, como eu, estava esperando ficar quieta no seu canto, lendo, escrevendo pro blog e vendo a paisagem sem interação com outras almas, vai sei um pouco cansativo.
Mas dá pra sobreviver.
É impressionante também como TODOS os canadenses gostam de small talk.

Passei minha infância sonhando em comer panquecas - sonho realizado. check.
A cada refeição (eram 3 por dia, mais os coquetéis, mais as provas de vinho e cerveja), você é obrigado a dividir a mesa com desconhecidos. E cada vez tem que conversar (nao dá pra comer na frente de alguém sem falar nada, por mais anti-social que você seja), e, como cada vez te sentam com alguém diferente, a conversa é mais ou menos a mesma: nome, o que faz da vida, pq o Canada, filhos, viagens.
Eu não aguentava mais, mas Dona Mari se divertia e fazia amigos.
Eu admiro Dona Mari.

A comida é farta, boa, pontua a viagem toda (quando vc acaba de almoçar já estão chamando pro jantar), mas não é tudo isso que nego fala. Acho que o povo daqui não conhece comida chique.

Conclusão
Apesar de ser um cruzeiro para a terceira idade, vale a pena fazer a viagem. Claro, contando que você pague a passagem promocional. E três dias no trem passaram mais rápido do que as 5 horas no avião.
(Dona Mari acrescenta que quer fazer o caminho contrário. Eu vou, contanto que mais duas pessoas nos acompanhem. Assim sentamos os 4 na mesa e não precisamos falar com ninguém.)




PS.:




Levamos uma Kodak ZX5 para gravar a viagem.
Não compre. A imagem é pixelada e com pouca definição de cor e ela liga quando quer.
Devolvemos assim que chegamos em Toronto.