Pensando que voltaríamos a morar em Vancouver, deixamos para
trás duas caixas e uma mala lotadas de quinquilharias.
Desde roupas, livros e documentos a cabides e potes de
plástico. Um pouco de tudo. Na verdade quando abrimos a mala e as caixas foi
uma surpresa só.
Ficou tudo guardado no depósito do Travis durante mais de um
ano.
Travis & nóis na bunda do nosso ex-prédio |
Então… tínhamos uma passagem NY-Vancouver comprada, que
seria a nossa volta para o Canadá. Acabamos trocando por uma passagem
Toronto-Vancouver, para pegar nossas coisas de volta.
Tínhamos a ida, mas não tínhamos a volta. Dona Mari, como
sempre, passou dias pesquisando o que sairia mais barato. E, quem diria, ela
descobriu uma SUPER promoção na Via Rail (http://www.viarail.ca/en/main).
Na verdade parecia inacreditável. Há anos vínhamos sonhando
em cruzar de Vancouver para Toronto de trem, mas a passagem tem preços
estratosféricos, mesmo na classe econômica.
Dona Mari achou essa mesma passagem por ¼ do preço, na 1a
classe, com comida incluída e com possibilidade de trazer todos os nossos
cacarecos sem pagar peso extra. Claro, compramos.
Ida
Chegamos em Vancouver na quinta de noite, depois de uma
saída apressada de Toronto, uma correria sem tamanho.
A viagem de 5 horas de avião dura uma eternidade. A sensação
foi ainda mais acentuada pelo fato de que partimos no final da tarde. Viajando
do leste para o oeste, perseguimos o pôr do sol por quase 3 horas. Eu não
parava de pensar no Super Homem, em viajar no tempo, no H.G. Wells.
Na chegada, a sensação de viagem ao tempo permaneceu. Novamente estávamos na cidade
que nos recebeu no Canadá. Dessa vez, porém, para uma passagem rápida, de 4
dias, em que nos esforçamos para ver os todos amigos.
Assim que pousamos, ligamos o telefone e já havia um convite
para jantar e nossa amiga nos esperava no aeroporto. Em 4 dias bebemos muito,
comemos uma moqueca baiana muito bem feita por um australiano, revemos um pouco
da cidade, andamos de bike pelo Stanley Park (morro de saudades) e conhecemos,
finalmente o Capilano Suspension Bridge Park.
Dica sobre o Capilano Suspension Bridge (http://www.capbridge.com/): Não vale o
preço. Eles cobram quase 33 dolares por um passeio que valeria no máximo 12.
Fomos porque tínhamos deixado isso como um passeio rápido para quando
voltássemos a Vancouver. É bonito… e rápido. Em 1 hora vc já viu tudo.
Pra quem não sabe essa é a ponte do Indiana Jones |
Cliff Walk - nova atração e a mais legal |
Bom, matadas as saudades (ou estimuladas as saudades)
empacotamos nossas coisas e embarcamos no trem.
Pelo que Dona Mari leu na revistinha do trem, o Canada só se
viu mesmo como uma única nação, e não provincias separadas por grandes
distâncias, quando a linha do trem Canada Nacional foi criada. E dá pra ver
porque, quando se faz esse trajeto.
Tudo é muuuuuuuuuuuuuito longe.
As cidades ao longo do caminho, com exceção de uma ou duas,
são micro-cidades. Algumas com menos de 2 mil habitantes. E a paisagem embora
linda, não parece muito convidativa.
E velho. Opera desde 1970 e algo.
É divido em duas principais classes: econômica e 1a classe.
A classe econômica, tadinha, viaja o tempo todo sentada. Se
lotar, vc viaja ainda de frente para um desconhecido, que viaja de costas. E
tem que pagar por comida, nao tem bem onde colocar a mala. Achei uma tragêdia.
A 1a classe é cheia de subdvisões. Tem as cabines com porta
de uma ou duas pessoas. Ou casal. Tem umas cabines de uma pessoa que fecham
somente uma cortina. E tem uns tais de uns berths. Foi nesse troço que
viajamos.
Quando entramos no trem levamos um susto. Nossa “cabine”era
na verdade dois sofás, um de frente pro outro, no meio do corredor do trem, ao
lado de outros dois sofás onde um casal de russos (suecos, poloneses,
albaneses, tchecos, algo assim) discutiam ardorosamente.
Achávamos que teria uma cortina divindo a nossa vida da vida
do resto do trem, mas não tinha. Imaginamos, pelo tom do casal, que eles tinham
a mesma expectativa que nós e não gostaram de se ver dividindo o corredor com
duas mulheres brasileiras (ou mexicanas, argentinas, portuguesas, algo assim).
Sentamos no nosso sofazinho (onde colocar a mala????),
tristes e desconsoladas. O casal ao lado na mesma mood… o rapaz levantou e saiu
para um passeio, com a mulher atrás. Poucos minutos depois Lernart, o trem-moço
(tipo aero-moço de trem, né?) do nosso vagão chega e pergunta se estamos
felizes.
- NÃO, dissemos sonoramente.
- NÃO, dissemos sonoramente.
E nos pusemos a explicar que no site tudo parecia diferente.
O moço (muito bom em customer service, por sinal) ouviu nossas queixas, repetiu
o que entendeu, se solidarizou conosco, concordou que as fotos do site enganam,
se propôs a procurar uma solução que nos satisfizesse no dia seguinte (ja era
tarde da noite) e nos pediu a gentileza de ficarmos lá apenas por aquela noite
para ver como era. Depois nos mostrou como nossas camas seriam montadas e como
haveria uma cortina ao redor da cama, afinal.
É ou não um verdadeiro bunker? |
Uma vez montada a cama e depois da primeira noite,
concluimos que não era tão mal assim e ficamos no nosso bunkerzinho. Teria sido
uma experiência tranquila se na segunda noite o casal não resolvesse que era
hora de fazer um amozinho gostoso, do qual eu, meu ouvido e minha insonia não
pudemos deixar de participar.
Tudo bem. Eles desembarcaram no meio do caminho de qq forma.
De resto o vagão era confortável. Banheiro grande, outro
banheiro grande só pro chuveiro. Logo no corredor, uma “bica”dágua com copinhos
de papel. Fofo.
Ah! Se alguém estiver pensando em fazer a viagem: quase não
há tomadas. Só no banheiro e no vagão de jogos. Traga sua extensão.
Restaurante |
Ainda sobre o trem, logo na nossa frente ficava o carro
panorâmico, confortável, todo de vidro. Havia ainda uns salões de jogos
(horrorosos), bares (horrorosos), vagões restaurantes (oks) e os domos (4,
acho), que ficavam elevados onde tb havia um vidro panorâmico e onde ficamos a
maior parte do tempo.
Carro panôramico - infelizmente ele só fica um dia conosco |
O Domo |
A Paisagem
No primeiro dia vimos as montanhas rochosas. Infelizmente não
estavam muito nevadas e o clima estava fechado, então não foi tão deslumbrante quanto
imaginávamos, mesmo assim, muito bonitas. A parada do dia foi em Jasper, que
fica bem no meio das montanhas. A cidade não tem nada. Achava que fosse tipo Whistler,
que é uma fofura, mas não. É bem sacal. Até porque, as montanhas ficam um pouco
longe.
Se você tiver tempo, dá para dividir a viagem de trem em
duas, saltar em Jasper, alugar um carro e fazer um passeio que se chama “A
estrada mais linda do mundo” que vai até Banff. Bom, depois vc me conta como
foi.
No Segundo dia, vc atravessa a parte do Canadá onde não há
“nada”, uma imensidão vazia que todo mundo disse que seria um saco, mas que eu
e Dona Mari curtimos horrores.
Talvez tenha sido o sol. Ou o outono. Sei que
achamos as cores lindas. A parada é à noite, em Winnipeg, a capital de Manitoba. Fazia um
frio do cão, então achamos um bar e bebemos uma cerveja MUITO barata pelos
padrões canadenses (3.50 o copo) (normalemente é 6.00).
No terceiro dia você cruza Ontario, com lindos lagos e
florestas. E para em uma cidade horrorosa que não sei o nome. Fizemos também
uma parada para uma pessoa com parada cardíaca descer.
Vivendo no Trem
Então…
Você gostaria de fazer um cruzeiro?
Você tem 70+ anos?
Você gosta de comer o dia inteiro e fazer amigos?
Então essa viagem foi feita pra você.
Atividade favorita: ler. Interação humana: 0 |
2a atividade favorita: escrever no blog. Interação humana: 0 |
Se você, como eu, estava esperando ficar quieta no seu
canto, lendo, escrevendo pro blog e vendo a paisagem sem interação com outras
almas, vai sei um pouco cansativo.
Mas dá pra sobreviver.
É impressionante também como TODOS os canadenses gostam de
small talk.
Passei minha infância sonhando em comer panquecas - sonho realizado. check. |
A cada refeição (eram 3 por dia, mais os coquetéis, mais as
provas de vinho e cerveja), você é obrigado a dividir a mesa com desconhecidos.
E cada vez tem que conversar (nao dá pra comer na frente de alguém sem falar nada,
por mais anti-social que você seja), e, como cada vez te sentam com alguém
diferente, a conversa é mais ou menos a mesma: nome, o que faz da vida, pq o
Canada, filhos, viagens.
Eu não aguentava mais, mas Dona Mari se divertia e fazia
amigos.
A comida é farta, boa, pontua a viagem toda (quando vc acaba
de almoçar já estão chamando pro jantar), mas não é tudo isso que nego fala.
Acho que o povo daqui não conhece comida chique.
Conclusão
Apesar de ser um cruzeiro para a terceira idade, vale a pena
fazer a viagem. Claro, contando que você pague a passagem promocional. E três
dias no trem passaram mais rápido do que as 5 horas no avião.
(Dona Mari acrescenta que quer fazer o caminho contrário. Eu
vou, contanto que mais duas pessoas nos acompanhem. Assim sentamos os 4 na mesa
e não precisamos falar com ninguém.)
PS.:
Levamos uma Kodak ZX5 para gravar a viagem.
Não compre. A imagem é pixelada e com pouca definição de cor e ela liga quando quer.
Devolvemos assim que chegamos em Toronto.
Que legal ver o diario da viagem, meninas! A paisagem tem cara de ser linda.
ResponderExcluirAmei! Ri muito da interação humana: 0. Hahahaha... Isso é muito Barbs!! :)
ResponderExcluirBacana o passeio, adorei as fotos.
Saudade de vcs!!!
Beijocas!
Qual o valor que vocês pagaram?
ResponderExcluirOi anonimo.
ResponderExcluirNao sei exatamente (tem tempo), mas acho que foi uma promocao que saiu uns 800 dolares entre nos duas. Lembro que o preco normal da 3a classe era 600 na epoca, entao nos fizemos um PUTA negocio. :)
Realmente um excelente preço. Máximo que consegui foi 430 dólares a econômica, vou ficar torcendo para aparecer uma promoção na primeira classe.
ExcluirPessoal, bom dia!
ResponderExcluirEstava olhando o blog de vocês e gostaria de saber como funcionam essas paradas do trem. Vocês podem descer? Quanto tempo de parada?
Obrigado
oi Anonimo. As paradas que fizemos foram rápidas e não tivemos nennum controle sobre elas. Mas dependendo do tipo de passagem você pode parar peo tempo que quiser e depois retomar. Nao sei bem como funciona. Dá uma olhada no site da Via Rail
ExcluirOlá, bom dia como vai? Gostaria de tirar uma duvida. Se eu comprar o trajeto total Toronto Vancouver. Eu posso fazer esta viagem parando 2 ou 3 dias em cidades estratégicas ao longo do caminho? Sei que o Trem é diário. No entanto, se SIM, como será que eles controlam a ocupação do trem?
ResponderExcluirobrigado pela atenção. gostei muito do seu blog
oi Lucas. Eu nao fiz isso, mas vi gente fazendo. Só que a passagem sai mais cara, ou pelo menos nao tem a promoção que pegamos. Dá uma olhada no site da Via Rail. Um abraço
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