24/02/2012

Life Drawing em Toronto

Quando eu era nova (agora sou velha) fiz um curso de desenho no Parque Lage. Foi a primeira vez na vida que tive contato com o desenho de modelos vivos. Foi uma grande descoberta, isso de desenhar o corpo humano. Mais tarde cursei um semestre do Curso de Propaganda e Marketing da Universidade Mackenzie, em São Paulo, e tínhamos aulas de desenho duas vezes por semana, muitas vezes com modelos vivos. Eu amava. Passava a semana inteira ansiosa pela próxima aula.
Infelizmente, depois dessas duas experiências, nunca mais tive essa oportunidade. Cheguei mesmo a me fotografar nua para tentar ter algum modelo, mas não deu muito certo. A vida tomou outros rumos e eu não virei artista plástica. Mas morria de saudades.
Tempos depois, meu irmão, que tinha acabado de se mudar para NY, descobriu por lá umas sessões de desenho de modelo vivo, um tal de Drink and Draw. A idéia é pagar uma pequena taxa (de 15 dólares) e você tem em troca 2 horas de desenho de um modelo vivo e cerveja liberada. Ele imediatamente se viciou e de tanto freqüentar começou a desenhar muito, muito bem e a postar os desenhos na internet.
Eu morria de inveja, pra falar a verdade, e quando fui à NY visitá-lo fiz questão de ir no tal Drink and Draw. Obviamente me amarrei e, chegando em Toronto, fiquei me perguntando se não havia algo do tipo por aqui.
Pois bem, entrando em uma das muitas lojas de arte, perguntei ao balconista sobre esse tipo de curso e ele me deu um panfleto do curso aberto do Hotel Gladstone. Demorei a ir, pois que trabalho quartas à noite (e o curso funciona de 8 às 10pm), mas tive a oportunidade essa semana e quase derreti de felicidade.
O Hotel Gladstone tem um bar super bacana e uma sala de teatro/cinema no primeiro andar onde, vira e mexe, há exposições, mostras de cinema e coisa e tal. Cheguei um pouco adiantada para ter certeza que teria lugar. A sala era muito mais confortável do que a que eu tinha ido em NY, ampla e com mesas e cadeiras suficientes. Sentei na segunda fila, pois como não desenho há quase 15 anos, estava morrendo de vergonha. A modelo era gordinha e eu nunca tinha desenhado gordinhas, o que foi um desafio à parte. As primeiras poses foram de pouquíssimos minutos, como que para esquentar, e as mais longas tiveram 10 minutos (o que também não é lá tanto tempo), mas deu pra brincar. 

Como eu disse, não me julguem, fiquei muito tempo sem desenhar...

O pagamento de 8.00CAD você faz ao final e alguns engraçadinhos saem de fininho no meio dos intervalos para não pagar (acho uma sacanagem sem tamanho). Um dos engraçadinhos, porém, me contou que em Toronto existem muitos lugares como aquele (e eu imagino que ele seja persona non grata em alguns). Acabei de pesquisar e descobri que existem, mesmo, muitos lugares onde você pode desenhar modelos vivos por uma pequena taxa. Aliás, há inclusive algumas sessões temáticas, como desenho vivo para cartunistas e desenho de poses bondage, que quero SUPER ir.
Além desses express drawing sessions, há cursos mais alongados de artes super acessíveis, é só dar uma pesquisada.
Abaixo, uma breve listagem de lugares que descobri agorinha mesmo e que pretendo ir quando tiver oportunidade:
Centennial College
Sessões de desenho toda quarta feira, de 6-9pm.
Preço: 8 CAD.
http://www.centennialcollege.ca/thecentre/openlife
Central Connection
Sessões toda segunda feira, de 6:30-9:30
Há semanas com modelos nus e semanas com modelos vestidos.
Preço: 10 CAD.
Quem for tem que chegar um pouco antes para ajudar a montar o estúdio.
http://www.centralconnection.ca
Toronto East Community Art Program
Terças de 7-9pm. gratuito, mas tem que registrar
Cada sessão tem um modelo masculino e um feminino.
http://www.tecap.org/12.html
The Toronto Heliconian Group
Todas as segundas de setembro até meados de junho
de 10-12am para poses rápidas e de 1-3pm para mais demoradas
Preço: 6 CAD para cada sessão
http://heliconianclub.org/about/happenings/sketchgroup/
Toronto Cartoonists Workshop
Todas as terças a partir de 13 de março de 7-10pm
As poses duram de 2-30 minutos e os modelos podem estar nus ou vestidos.
Preço: 15 CAD por sessão
http://cartoonistsworkshop.com/wordpress/shop/openlifedrawing
Life Drawing with Edge
Toda segunda terça-feira do mês, de 7:30-10:30. Pedem que se chegue antes.
Desenho de poses eróticas e bondage, para maiores de 18 anos.
Preço: 20 CAD por sessão ou 50 CAD por 3 sessões
http://thekeyholesessions.com/about/attendee-info
Gladstone Hotel
Toda quarta-feira de 8-10pm
Alega ser a aula aberta de desenho mais antiga de Toronto. O hotel sempre tem, também, bons eventos. Vale a pena conhecer.
Preço: 8 CAD
http://www.gladstonehotel.com/events/event-listings/todays-events
Artists 25
Vários horários. Modelos vestidos.
Preço: 8 CAD por sessão
Terças: 7:30 to 10:00 p.m. Desenho de gestos e poses rápidas.
Quintas: 7:30 to 10:00 p.m. Roupas e retratos.
Sextas: 7:30 to 10:00 p.m. Desenho livre
Sábados: 10:00 to 12:30 am e 1:30 to 4:00 p.m. desenho livre
http://www.artists25.ca/index.php?pr=Studio_Sessions
Lembre-se de levar seu próprio material de desenho e divirta-se!

18/02/2012

Blind date gastronômico

Anos atrás, sentada no meu sofá no Rio de Janeiro, eu estava assistindo um dos muitos programas sobre NY e vi uma matéria sobre um restaurante às escuras, onde as pessoas experimentavam comer de olhos vendados. Desde que assisti àquele programa, comer às escuras virou uma espécie de sonho encantado que, vez por outra, voltava à minha cabeça.
Alguns dias atrás uma amiga convidou eu e D.Mari para comer na versão canadense do restaurante. Topei na hora. D.Mari achou que não ia gostar e não topou, infelizmente. Então ontem, sexta feira, Rosa fez uma reserva para 4 (amigos) no O.Noir. Deveriamos chegar lá por volta das 5:45pm para o primeiro serviço da noite, mas excitada, saí de casa 4:20pm.
Do caminho, liguei pra Rosa:
-       Socorro, to excitadíssima. Já saí de casa!
-       Eu também estou. Já estou saindo de casa também.
Tu tu tu tu tu
O telefone desligou.
Ligo de novo:
-       Rosa?
-       To tão ansiosa que desliguei o telefone sem querer!
-       Então ta. Te encontro na port...
Tu tu tu tu tu tu
Fui a última a chegar, como sempre, perdida. Rosa e mais 2 amigos igualmente ansiosos esperavam na mesa. Tiramos fotos e recebemos o menu.


Foto
Quando você chega no restaurante, que fica num subsolo na Church St., a primeira coisa que se faz é sentar numa lounge para decidir os pratos. São 4 escolhas para entrada, prato principal e sobremesa. Alem das quatro, que incluem saladas, massas, risotos, frutos do mar e carnes, há a opção de prato surpresa que encantou a mim e à Rosa.
Imediatamente elegemos prato surpresa de entrada, enquanto os meninos escolheram o polvo. Já estávamos a caminho de escolher o prato principal surpresa quando um dos meninos falou: “Acho arriscado. Vai que eles levam um macarrão com molho de tomate? Imagina a decepção.” Então decidimos que o prato principal iríamos escolher. Eu e Edu fomos de veado e Rosa e Felipe de camarão com risotto. Na sobremesa todo mundo menos Edu, que não quis arriscar em nada e escolheu um bolo de chocolate, foi de prato surpresa.
O metre  anotou os pedidos e perguntou se tínhamos alguma alergia ou preferências. Rosa não come carne e eu não gosto de amendoim na comida. Pedimos um vinho pra acompanhar.
-       Vocês estão prontos? Ele perguntou.
-       Sim!
-       Então me acompanhem.
Fomos até um corredor onde havia portas para diversos salões. De dentro de uma das portas saiu a garçonete, de óculos escuros.
-       Essa é a Diana, ela vai ser a garçonete de vocês por essa noite.
Diana disse “Olá” e, em seguida, mandou que desligássemos os celulares e tirássemos relógios que brilhassem no escuro. Em seguida mandou que formássemos uma fila indiana e colocássemos a mão um no ombro do outro. Entramos em uma ante sala. Ela pediu que fechássemos a porta. Quando ouviu que estava fechada, abriu uma segunda porta e nos orientou a segui-la.
O breu era total. Tipo: TOTAL.
Rosa depois disse que teve um pouco de medo da situação. Era como se, de repente, estivéssemos todos cegos (como Diana). A garçonete nos levou, de dois em dois, para a mesa. Explicou onde deveríamos deixar casacos e bolsas e mapeou, para nós a mesa à frente:
-       Na mesa há um pequeno prato com manteiga em cima. Em frente a isso, seus guardanapos. À direita garfo, à esquerda faca. Se vocês precisarem de qualquer coisa é só me chamar. Volto em breve com o pão.
 A gente tateava a mesa tentando localizar as coisas. Rosa tinha certeza de que ela não tinha guardanapo. Eu não achava minha faca. Estávamos sozinhos nessa sala, sabe-se lá de que tamanho, totalmente escura. Edu logo disse:

-       Cara, esse é o lugar perfeito para um assassinato.
Edu conta sobre seus planos de assassinato no restaurante
Nisso a garçonete volta com o pão.
-       Eu estou aqui. Estendam a mão e peguem o pão.
Eu tinha certeza de que ia ser uma zona. Que iríamos derrubar a cesta, que ia ser uma loucura. Mas a garçonete tinha mãos firmes e correu tudo bem. Então começamos a tentar passar manteiga no pão. E a conversar. Deus! como falávamos alto. Não sei se para compensar o silêncio do ambiente ou a falta da visão. Nisso entra a garçonete com um casal. Abaixamos o tom de voz e percebemos que há uma música que eu defini como “não óbvia” e que o lugar não tinha odor absolutamente algum. A garçonete volta novamente com água. Depois com o vinho. Depois com mais gente a sentar nas mesas.
Quando, finalmente, chega a entrada, o salão começa a encher. Do outro lado alguém pergunta: “Vocês estão comendo o polvo? Como está?” "Uma delícia!”
Os meninos comiam polvo (com as mãos porque era realmente absurdamente difícil acertar com o garfo) e eu e rosa brigávamos com uma salada surpresa. A salada estava deliciosa. mas não conseguíamos saber do que era feita.
-       Beterraba, eu disse.
-       Batata doce, ela disse.
-       Cogumelo.
-       Não, certamente é raiz. 
Rosa e eu, tentando descobrir o que tinha na salada.
Veio a garçonete novamente recolher os pratos (Estendam o prato para mim, deixem os talheres) e trazer a comida. Meu veado estava uma delícia e Rosa estendeu um camarão pra mim. Estendeu no breu total, com a mão, e eu não achava... quando finalmente comi estava uma maravilha. Edu então resolveu pregar peças na gente e mover os copos de lugar. Ao redor as outras mesas, falavam alto, brincavam e com isso a ansiedade de estar no escuro total diminuía.

Porque, você achava que se acostumara e, de repente, notava: tudo preto.

Quando veio a sobremesa Edu disse: Aposto como a sobremesa vai ser sorvete e eu vou comer um bolo delicioso.

A sobremesa era, efetivamente, sorvete. Mas de quê? E embaixo havia uma fruta. Um gosto de álcool também. E cravos. Que fruta era? Que sorvete? Estava uma delícia.
Saímos extasiados. Na hora de pagar pedimos para saber o que havíamos comido. A entrada havia sido salada de cenoura com Rúcula (UAU!) e a sobremesa maçã cozida com cravo e sorvete de vanila.

Nós quatro na mesa. Foto tirada pela garçonete.

Foi uma experiência deliciosa e o fato de não usarmos vendas e sim estarmos em um ambiente totalmente escuro faz com que não haja como “roubar” tirando a venda só um segundinho para olhar o que está comendo ou ajeitar a comida no garfo. Ao mesmo tempo, o breu total também te dá o conforto de que ninguém está vendo a sujeira que você está fazendo ao tentar colocar o risotto no garfo.

Não é um passeio barato (a conta saiu 44.00 CAD mais o vinho, 30.00 CAD /4, mais gorjeta) mas super valeu à pena (imagino que, no Brasil, a conta seria R$ 180,00 + vinho de 80,00 + gorjeta).
Já programo voltar com qualquer visita que queira ir.



13/02/2012

Procurando apartamento

Quando chegamos a Toronto não tínhamos muita idéia da cidade, onde morar, nem sobre quais seriam os preços reais de aluguel. Havíamos feito uma pesquisa anterior, claro, sobre bairros e preços, mas quando você chega na cidade a realidade é sempre muito diferente do que você espera.
A primeira coisa que eu e D.Mari queríamos era viver próximo ao centro. Mas, o que é o centro, exatamente? Toronto tem um zilhão de micro-bairros e, antes de você começar a conhecer a cidade, fica difícil saber o que é o que.


Onde é o Centro, caramba?
Às vezes um bairro é praticamente só uma rua, às vezes é gigante. Depois mesmo de alugarmos nosso apartamento demoramos um tempo pra saber em que bairro estávamos. E isso não é um sentimento incomum.
mapa dos bairros


Para descomplicar nossa vida, decidimos que o centro fica onde fica a Universidade de Toronto e não nos enganamos muito. É mais ou menos isso mesmo. Considerando que o CN Tower (ou Pitoco, como D.Mari gosta de chamar) marca o sul de Downtown.
Aqui vc encontra um guia que ajuda muito a entender os bairros. De qualquer forma, acho seguro pensar que o centro gira em torno dos cruzamentos entre as duas linhas de metrô.
O mapa do metrô. Considero o centro sendo próximo ao U.

Ainda em NY começamos a pesquisar tanto apartamentos quanto quartos para alugar e já marcamos de ver alguns lugares. Os principais sites que usamos na busca foram: Craigslist e o Easy Roommate
Bed bug
Antes mesmo de ligar para marcar de ver um apto, colocávamos o endereço no http://bedbugregistry.com/. Para quem não sabe o que é bed bug: é percevejo, um bicho que mora em camas e te devora à noite. É uma praga na América do Norte e pode causar muitos problemas porque é difícil se livrar deles uma vez que você entre em contato. Então é sempre bom saber se o prédio que você vai morar tem ou não uma infestação. E o BedBug Registry tem relatos de quem sofreu com a praga, onde, e como foi a reação dos administradores do prédio a respeito do assunto.
Mapa da infestação em Toronto

Nossa busca
Chegando aqui tínhamos 4 dias assegurados num hostel e mais nada. Uma correria louca para acharmos algum lugar. Esperávamos conseguir um quarto e sala não longe do centro por uns 800-900 CAD e efetivamente achamos alguns lugares nesse preço. Os problemas? A maioria é infestada de bed bug. E os apartamentos que não eram pediam fiador.
Como no Brasil, aqui em Toronto se pede fiador na hora de alugar. Caso você não tenha (e você não tem porque não conhece ninguém na cidade ainda) eles pedem depósito do primeiro e último mês de aluguel e um credit history check, ou seja, eles pedem para analisar sua vida financeira nos últimos meses: se você está com o nome limpo, se deve alguma coisa, se atrasa ou não o pagamento de contas... Bom, se você acabou de chegar nem tem conta ainda (ou mesmo que tenha, ainda não tem um histórico), fica difícil. Então, depois de vermos alguns lugares, descobrimos que alugar um apartamento seria mais difícil do que pensávamos. E alugar quarto seria, sempre, uma opção temporária, pois não queríamos mais viver na casa de ninguém (passamos o último ano e meio de casa em casa).
Acabamos abrindo um pouco mais a carteira e a cabeça e saímos do centro. Viemos parar no que hoje sei que é o Swansea, ou lago dos cisnes... :), morando no basement (ou porão) de um prédio familiar.


Aqui no Swansea tem cisne pacas. Nem no inverno eles vão embora.


Viemos para cá porque a dona do prédio foi com a nossa cara e confiou em nós. Posteriormente descobrimos que muita gente acaba em basements em casas e prédios familiares pelo mesmo motivo – falta de papéis. De qualquer forma assinamos um contrato de um ano e pagamos adiantado o primeiro e o último meses. 


Nossa janela é essa atras da árvore
Pontos a favor: Nosso apartamento é um basement com janelas grandes, ou seja, não é escuro como a maioria, quarto, sala, cozinha grandes. Um belo apartamento. Ficamos do lado do High Park e do Lake Shore, então é um lugar lindo. O apto é todo reformado, atrás da casa tem um laguinho que congela (ou deveria) no inverno e dá(ria) para patinar. A 7 minutos de casa fica o street car, que é 24 horas e em frente de casa passa um ônibus que leva para o metrô em 9 minutos. Dá para ir andando também, mas são uns bons 23 minutos de subida. No prédio tem uma lavanderia que pagamos barato pra usar. O aluguel é mais caro do que imaginávamos (1.100,00 CAD) mas é ok, se vc pensar no tamanho do apto e que é pra duas pessoas. 






Street Car na Queensway, ao lado de casa.
High Park


Lake Shore


Lago Ontario parece praia mesmo
Pontos fracos: Não é absolutamente no centro. Daqui pro centro de Street car são uns 40/50 minutos e de metrô+ônibus outros 30/40 minutos. É um lugar puramente residencial e a única lojinha de conveniência fica aberta somente até as 21h. Pra ir no mercado temos que andar até a Bloor St (23 minutos, ou pegar o ônibus, ou o street car). Mas, se tivéssemos um carro, tudo no mundo ficaria a, no máximo, uns 15 minutos de distância.
Mapa do TTC
O prédio é familiar e a dona (que nós chamamos ela de Dona Cocota) é bem intrometida. Embora pela lei não sejamos obrigadas a deixá-la entrar em casa sem um aviso de 24 horas de antecedência, ela, vira e mexe, bate na nossa porta. Antes era amigavelmente, trazendo comidinhas e para bater papo, mas depois que tivemos uma conversa sobre o aquecimento do prédio a coisa mudou de figura.
Pois é. O aquecimento é toda uma questão para quem mora em basement e é bom perguntar antes de alugar duas coisas: está incluído no aluguel? Qual a temperatura no inverno?
Porque normalmente o aquecimento está incluído. Pela lei a temperatura do apartamento tem que estar a, no mínimo, 21 graus. Mas o nosso fica a 17. Um porre. Vc acorda, maior frio lá fora, cedo, tudo escuro e seu apto a 17 graus é de morrer. Reclamamos educadamente e a dona teve o desplante de dizer que o Canadá é frio mesmo e que a gente tinha que se acostumar, pois aquecer mais o prédio é muito caro. Na hora ainda não sabíamos da lei, mas fomos atrás. Quando batemos com isso na casa dela, ela comprou um aquecedor. Só fomos conseguir um acordo quando ela se comprometeu a pagar a diferença na conta de luz, porque ela se recusa a aumentar a temperatura do prédio. E, desde então, nada de comidinhas na porta. Além disso, temos que avisar se teremos gente nos visitando por mais que 24 horas e pedir permissão para abrigar aqui em casa. Tipo, quando meu irmão veio de férias pra ficar 10 dias entre Natal e Ano Novo e eu falei com a Dona Cocota, ela disse: “It’s ok, he can come”. Como poderia dizer: "Sorry, I don't like the idea". E, última desvantagem: não podemos sublocar (essa é talvez a pior parte para duas viageiras como nós. Talvez nos mudemos daqui por isso).

Onde queremos morar
Uma amiga britânica que mora aqui há uns 30 anos disse pra D.Mari que, quando você se muda para Toronto, o primeiro bairro em que você chega é decisivo. Se você cair no East Side, vai sempre morar por lá, se cair no West é a mesma coisa. Caímos no West e não queremos sair. (pra entender East e West: a Yonge Street divide a cidade)
Uma vez que não temos mais pressa eu e D.Mari começamos a conhecer os bairros de Toronto devagarinho, procurando os lugares mais bacanas e pesquisando preços. Se decidirmos mudar antes do final do contrato, temos que dar um aviso com 2 meses de antecedência, o que é um saco. E o que dificulta nossa busca.

Little Italy
Bairro fofo. Na verdade toda a College Street é bastante encantadora. Tem comércio, parques, restaurantes, boates, cinemas... uma delicinha. Tem street car 24 horas também. Tem metro. Little Portugal também passa por ali então é tranqüilo comprar produtos brasileiros. Pra completar está do lado do Kensington Market, que é um dos nossos lugares favoritos em Toronto.
Eu e meu brother no Kensington Market
Liberty Village
Bairro meio novo (ta todo em construção), mas que abriga alguns artistas, fica perto das produtoras de vídeo e tem supermercado e academia 24h. É praticamente no centro também.

Queen Street West e arredores
A Queen street é uma paixão. A rua é absolutamente linda, cheia de restaurantes, bares, lojas de arte, decoração, tatoo shops, licour Stores, Comunity Centers, cafés... You name it. Andar na Queen é sempre um prazer e uma descoberta. Além do Street Car 24 horas, é claro, e da proximidade do metrô.
Queen Street West


D.Mari descobrindo uma lojinha de LPs


Tem de tudo na Queen


Roncesvalles Village
Lugarzinho lindo. Aqui perto de casa, do outro lado do High Park tem TUDO o que queríamos pra morar. A rua é uma lindeza, cheia de cafés, livrarias, bares, restaurantes... Jazz toca em todos os lugares. Tem um cineminha barato com cara do grupo Estação. Tem street car fácil. É do lado do High Park e da Lake Shore. Termina na Dundas, onde ficam os negócios brasileiros. Apaixonamos e queremos ir hoje mesmo. Pena que não achamos uma única casa para alugar.


A Roncesvalles é uma fofurinha
Ainda não testamos o cinema, mas que é lindo demais, é.
...

10/02/2012

Small talk



Outro dia eu estava andando e street car e falando ao telefone com Dona Mari. Assim que desliguei o telefone, faltnando um ponto para eu descer, uma menina me cutuca e pergunta: Você é brasileira. No que respondo que sim ela me diz que está em Toronto há 2 meses e pensa em se mudar pra cá. Quer dicas. Como não podia conversar dei pra ela meu cartão e trocamos alguns emails.

Achei que era válido compartilhar os dois primeiros deles, pois sei que são coisas que todo mundo se pergunta.


Email de perguntas 

Olá Bárbara... tudo jóia?
Eu sou a Evellyn... falei com você dentro do street car, sobre morar em Toronto rs...
Eu vim pra cá pra Toronto, pra estudar inglês mesmo, durante dois meses. E acabou que me interessei muito em vir pra morar, estudar... viver aqui. Eu estava cursando Direito no Brasil, fiz 2 anos, mas estou querendo mudar e estava pensando em vir pra trabalhar e cursar uma faculdade aqui. dentro de um ano,6 meses, não sei, voltar pra cá.
Você está aqui há quanto tempo? O que está achando? Trabalhar, ter profissão aqui pra brasileiro, como funciona? É difícil? Cidadania? 
Se pudesse me dar umas dicas, me contar sobre aqui, eu agradeceria muito!
Fico aguardando.

Email de respostas


Oi Evellyn.

Tudo bem?
Entao, vou falar um pouco rapidamente, mas a gente pode seguir trocando informação.
Eu imigrei legalmente para o canada. Fiz um processo chamado skilled work permit, que é um processo longo. Vc aplica se tiver uma das profissoes que o canada precisa, tem que provar experiencia na area, proficiencia em ingles, se vier com familia ganha uns pontos nisso tb, se ja morou trabalou/estudou no canada tb. A boa noticia é que uma vez aqui eu sou residente permanente. Tenho todos os direitos canadenses, inclusive seguridade social, menos o poder de voto. Depois de 3 anos posso aplicar pela cidadania e ter o passaporte e direito de votar e  ser votada.

O ruim é que as portas estao cada vez mais se fechando e a lista de profissoes esta cada vez menor.
O que a galera ta fazendo é vir com um visto misto de trabalho e estudo e, depois de 1 ano estudando e 2 trabalhando (acho), eles pedem um visto de residente que pode ou nao chegar.

Com relacao a trabalho: é um pouco dificil dependendo da area. Na sua area imagino que seria mais valido vir estudar aqui, pois lei é diferente de pais pra pais e ele nunca vao reconhecer seu diploma. Entao, se vc estudar aqui tem uma chance de fazer estagio e se empregar na sua área. Caso contrário vc tem grandes chances de acabar num sub-emprego.

Aqui em toronto, no cafe que trabalho, quase todo mundo é brasileiro. Muitos largaram suas profissoes no brasil e viraram baristas. Um dos meus colegas, inclusive, é advogado. Eu acho um pouco de perda de tempo, porque é uma vida meio escravisada.

A maioria dos brasileiros que conheço sao garsons, construtores e baristas. Mesmo que tenham formação no brasil ou mesmo experiencia. Muitos dos diplomas brasileiros nao sao reconhecidos aqui.

Se sua ideia é so dar um tempo, aprender ingles e se divertir um pouco OU trazer sua vida pra ca fazendo toda a faculdade e se tornando uma advogada canadenses, acho que o visto de trabalho/estudo é super valido.

Sobre a cidade em si:
Sou bem nova aqui tb, mas antes do inverno chegar essa cidade estava SUPER vibrante. Havia festivais de rua todo final de semana, exposiçoes abertas de arte, festas, show na praça... Tava uma delicia e eu me amarrei. Confesso que o inverno me fez ficar um pouco caida e tristinha, mas parece que faz parte. Mesmo pq a cidade fica um pouco adormecida. Mas estou ansiosa pra ver o verao que todos dizem ser o maximo.

Bom, tenho que ir. Espero que esse email te ajude, de alguma forma.

Um grande abraço,
Barbara