23/11/2012

Mudança - parte 01: PROCURANDO APARTAMENTO


Acabei não falando da mudança aqui no bloguinho, mas acho que é válido contar, pois tenho algumas dicas a respeito que poderiam ter me ajudado quando estava procurando apartamento, na saída do apartamento antigo e no transporte dos pertences. Então vou dividir aqui.

Parece fácil, mas é difícil.
Procurar um apartmento é um full time job. No começo é divertido, has depois de uma, duas, três semanas, você para de querer achar um lugar bacana para morar e passa a querer achar QUALQUER lugar ok para morar.



Planilha de planejamento de visitas a apartamentos


A rotina de quem procura casa é mais ou menos assim: Acorda e todos os dias checa os anúncios dos principais sites.

craigslist.ca, Kijiji.ca, viewit.ca, padmapper.com, myhood.ca




Se gostar de alguma coisa, manda email o mais rapidamente possivel e com um texto bacaninha, para que eles gostem de você logo de cara.
Se tiver telefone, liga imediatamente e tenta marcar visita.

Outro método é andar pelas ruas procurando placas de aluga-se e do Viewit, que é super comum por aqui.

Os landlords normalmente marcam um dia específico no qual eles estarão mostrando os apartamentos de uma vez para todos os interessados. Então é normal que você entre em uma casa e lá tenha outras 30 pessoas olhando. As visitas são feitas normalmente em apartamentos ainda habitados, então você tem que imaginar como é aquele espaço vazio. Depois de ver o apartamento você recebe um formulário para preencher com seus dados e entregar para a pessoa que está mostrando o apartamento.

Como são muitas as pessoas que vêem o apartamento ao mesmo tempo, fomos aos poucos desenvolvendo métodos de sermos lembradas e chamar a atenção.
1 - Chegar o mais cedo possível, a pessoa ainda está descansada e sabe quem você é. Com o passar das horas o tumulto acontece e fica mais difícil ser lembrado;
2 - Tenha a mão todos os documentos: identidade, credit history, comprovante de trabalho, SIN number;
3 -  É sempre bom ter uma lista de nomes e telefones de pessoas que podem falar bem de você. Pode ser amigos e familiares, mas o melhor são antigos landlords e chefes;
4 - Se possivel tenha cartas de gente do trabalho ou do seu landlord dizendo que você é bacana, paga tudo em dia, é confiável, essas coisas;
5 - Faça uma cartinha pessoal para seu possível futuro landlord. Diga para ele as razões pelas quais ele deve te escolher. Uma amiga aqui de Toronto me deu essa dica e dá pra ver na cara deles que eles ficam felizes em receber isso. Na nossa carta tinha uma apresentação fofa, falava de como não fumamos, não temos animais de estimação, que gostamos de plantas e não temos problemas em ajudar a tirar o lixo, por exemplo. Como pagamos tudo sempre em dia e, se possível, antes mesmo da data. De como seriamos as melhores pessoas para morar lá. Besteira? É. Mas ajuda. Dá aquele "plus a mais".

Atenção: Há uma estratégia escrota que rola aqui com a qual não concordamos que é oferecer mais dinheiro do que está sendo pedido. Muita gente faz isso e imagino que funcione.

Condomínios de muitos apartamentos podem ser mais fáceis de alugar. Pelo menos se você tiver com os seus documentos em dia. Mas atenção redobrada: boa parte deles está infestada de pragas.
A dica, que já dei antes, é sempre verificar o endereço de qualquer lugar no http://bedbugregistry.com/
Embora o nome sugira um registro de BedBug (percevejo) apenas, ele dá outro tipo de dicas: ratos, baratas e moradores esquisitos.
Há prédios de apartamentos aqui onde tudo é lindo e maravilhoso e outros onde o cara que pede um trocado na esquina para fumar crack será seu vizinho de porta. Por isso, é sempre bom pesquisar o histórico do prédio.




Outra boa ideia é checar o endereço no WalkScore.com onde você pode ver as amenidades próximas ao endereço, como parques, pontos de ônibus, lavanderias, escolas, livrarias, cinemas... ou seja, dá pra saber se é ou não bem localizado ou no fim do mundo. Para você ter uma ideia, o Walk Score do nosso apartamento antigo era 55, o nosso novo é 90 - um paraiso para pessoas caminhantes.





Eu e D.Mari não tivemos sorte.
As casa que vimos eram ou horríveis, ou caras, ou com zilhões de pessoas querendo. Nosso nome nunca era o escolhido.
Perdemos um apartamento porque a data de mudança era um mês antes da nossa data de saída (muita gente não se importa e se muda mesmo tendo que pagar dois alugueis - o que importa é arrumar um lugar), outro porque o dono era croata e todos os concorrentes eram croatas também, outro porque o dono do apartamento ficou indeciso entre nós e outras pessoas e marcou de irmos na casa dele, num domingo as 10pm, para preencher uma ficha, conhecer o filho dele e duas outra inquilinas que iriam ajuda-lo a decidir quem era melhor para viver naquela comunidade. Entre as perguntas do formulário estavam o que costumamos ver a internet e se iríamos usar o jardim, como e quanto. Tipo em horas por semana. Nem preciso dizer que dessa vez fomos nós que saímos correndo.
E os prédios… bom, os que podíamos pagar eram prédios antigos que tinham histórias de horror no BedBugRegistry, então nem fomos visitar.





Rodávamos as ruas um dia, de bicicleta, procurando por anúncios do lado de fora quando vi uns construtores portugueses trabalhando num telhado. Resolvi parar a bike e perguntei: "os senhores sabem de algum apartamento para alugar nas redondezas?" Um deles veio conversar comigo e eu expliquei que estava difícil. Eu já tinha ouvido falar que o jeito mais fácil de procurar é falando com portugueses, pois sempre sabem de quem esteja precisando de inquilinos,  então resolvi arriscar. O moço me falou para procurar os classificados de um jornal chamado "família portuguesa". Que lá sempre tinha anúncio.

Bom, dois dias depois conseguimos um exemplar em uma loja de produtos portugueses e lá havia tipo 4 anúncios de casa.
Uma muito longe.
Uma muito cara.
Um basement.
Um apartamento de três quartos, com tudo incluído, em downtown, por um preço inacreditável. Ligamos.

A moça que nos atendeu disse que infelizmente ia mostrar o apartamento naquele mesmo dia. Mas que se as pessoas nao gostassem do apartamento ela me ligaria de volta.
Duas horas depois me ligou, revoltada: pela 3a vez ela marcava de mostrar e ninguém aparecia nem ligava para avisar que não iria.
Eu disse a ela: posso ir amanhã mesmo, posso levar meu talão de cheques e quaisquer documentos que a senhora precisar. Eu juro que não irei furar. Posso inclusive telefonar para a senhora antes de sair, assim terá a certeza de que não vou desaparecer.


Eu e D.Suzana, vulgo mamãe, na frente de casa

Marcamos e no dia seguinte viemos ver nosso apartamento.
Eu e Mari estávamos já esgotadas de procurar e combinamos: se for ok, pegamos. Se for problemático e tiver solução, pegamos também. Só não pegamos se for uma merda ou se for deprimente.
Chegamos 15 minutos adiantadas, todas arrumadas e cheias de documentos em mãos. Tina nos encontrou na porta. Ficou visivelmente feliz de ver que não furamos.
A entrada do apartamento é meio assustadora: no primeiro andar há um típico "altar português" com fotos de familia e imagens de santos que dá nos nervos, mas subindo as escadas nossos olhos brilharam: o apartamento era lindo! Precisando de ajuste e cheio de coisinhas um pouco estranhas (tipo ele é completamente desnivelado) mas uma gracinha. Na mesma hora dissemos que queríamos. Ela marcou um outro dia para conhecermos o irmão dela, que é a figura responsável por cuidar da casa e fechar o contrato. E garantiu: a casa é vossa.


Vista da minha cama, no outono

QUERIAMOS MORRER DE FELICIDADE!!!

Alguns dias depois, contrato fechado e, desde que nos mudamos em setembro, estamos cada vez mais felizes com a nova casa.
Pena que, em breve, vamos ficar sem ela por alguns meses.
Mas é por uma boa causa: estamos de viagem marcada para a  América Central e Brasil.
Serão três meses de férias do Canadá. Merecidas férias, que essa vida de imigrante é dura.

Depois falo do caminhão de mudança.