ou... O dia que meus gatos armaram contra mim...
(ou seria contra D. Mari?)
Outro dia, de noite, eu resolvi correr pela casa com meu gato. É uma das brincadeiras favoritas dele, correr atrás da gente. Tenho dois gatos de pouco mais de um ano. Eles são grandes. A Zoe pesa uns 5 quilos e o Zeca mais de 7kg. Correndo o bichinho parece um potro.
(ou seria contra D. Mari?)
Outro dia, de noite, eu resolvi correr pela casa com meu gato. É uma das brincadeiras favoritas dele, correr atrás da gente. Tenho dois gatos de pouco mais de um ano. Eles são grandes. A Zoe pesa uns 5 quilos e o Zeca mais de 7kg. Correndo o bichinho parece um potro.
Os gatinhos quando chegaram |
A Zoe é mais na dela, brinca sozinha contra monstros imaginários e é louca por carinho na barriga. Dentro dela mora um motorzinho de ronrom que não para nunca. Ela conversa muito comigo e nos comunicamos muito bem - por exemplo ela não sobe no meu colo sem pedir permissão, que eu dou piscando os olhos demoradamente - e obedece quando a chamo pelo nome. Ela também prefere as visitas femininas, mas não dá muita bola pra ninguém antes de conhecer bem a pessoa - o que pode demorar meses.
Motor de ronrom |
D. Mari veio correndo (quer dizer, correndo mais ou menos que ela ta ruim das costas). Ela só viu meu corpo estendido no chão e dois gatos me olhando culpadíssimos. Espantada, me disse pra ter calma e não ficar com medo. Me levou no banheiro e limpamos minha boca. Eu cortei o lábio inferior em dois lugares - dentro e fora. A pancada foi tão forte que fez um buraco na parede em forma de dentes que ficou cheia de sangue. Não perdi os dentes por sorte. Bom, a Mari limpou o quanto pode mas disse que não sabia se eu ia precisar levar pontos ou não e que havia tinta presa no meu machucado que não saía.
Zeca pedindo pra brincar |
As instruções que a enfermeira deu foram exatamente o que D. Mari já havia feito - limpar, colocar gelo etc. Só que por conta da tal tinta no lábio fomos parar na emergência do St. Michaels.
No caminho eu falei pra Mari: vão achar que você me bateu. Se prepara.
E não deu outra. Respondi aos questionários da recepcionista quase sem conseguir falar. Queria que a Mari respondesse por mim, mas não deixaram. Enquanto esperávamos o atendimento ela era encarada com desconfiança pela staff e outros pacientes. Uma enfermeira me chamou num canto para fazer perguntas sobre como eu havia me machucado. Enquanto eu contava a historia (eu estava brincando com meu gato ele me atropelou e eu bati de cara na parede) notei que a história não fazia muito sentido. A enfermeira olhou para mim e perguntou:
- Você se sente segura na sua casa?
- Sim, sim!
- Quem é aquela moça que veio com você?
- Minha companheira.
- Você sofre algum tipo de abuso?
- Não.
- algum episódio de violência doméstica?
- Não.
- Você tem certeza?
- Tenho! Foi o gato! E foi sem querer! Ele não queria, ficou assustado, pediu desculpas! Eu juro!
- Ok, você pode aguardar que a médica já vai te atender.
Voltei pro lado da D. Mari. Ela estava assustada.
- Tá todo mundo me olhando com cara de que eu bato em mulher em casa!
- Pois é. Eu te disse. Ninguém acredita na história do gato.
Alguns minutos depois veio a médica. Ela me levou pra sala e achei que D. Mari estaria logo atrás da gente, mas ela não veio. Depois ela me disse que a enfermeira olhou feio pra ela e que ela achou melhor esperar do lado de fora.
Dentro do consultório, dois cartazes gigantes sobre violência doméstica.
A médica, novamente, me perguntou como tudo aconteceu.
Eu expliquei, já sabendo que ela não ia acreditar muito. Tentei colocar uma pimenta a mais, dizendo que eu sou mesmo desastrada:
- É que eu semper me machuco bestamente. Ano passado passei o ano inteiro quase sem andar por que caí da cama.
- Como assim, caiu da cama e ficou tanto tempo sem andar? O que realmente aconteceu?
Putz… acho que piorei as coisas, mais um acidente com cara de violência domestica.
- foi no méxico doutora, eu caí do beliche. Mas deixa pra lá.
Bom, ela limpou meu lábio. Havia pedaços da parede dentro do lábio e ela não conseguia entender como aquilo podia ter acontecido (foi o gato!). No final me liberou com a prescrição de ficar com gelo na boca e só.
Fomos pra casa. Eu com dor, D. Mari com horror.
Mas fiquei feliz de saber que eles te dão chance MESMO de falar em caso de estar sofrendo violência doméstica.
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ADENDO
No outro dia fomos fazer nossas taxas e eu ainda estava com a cara toda fudida. Contei a historia do gato para o contador que chamou a secretária portuguesa dele. Quando cheguei na parte em que todos achavam que D. Mari me batia ela contou que alguns anos atrás se queimou na cozinha com água quente. O Marido a levou no hospital e não havia quem acreditasse que ele não havia causado o acidente.
Sinistro.